Cigarrilhas
Mini, Club e Purito.
Nos últimos anos tem-se verificado uma certa tendência para a procura de charutos de “pequenos formatos”, ao que a indústria tem respondido com o lançamento de novos produtos. Diz-se que tal tendência terá origem no estilo de vida moderna, onde o frenesim das agendas e particularmente o tempo de que as pessoas dispõem é escasso, não facilitando uma correta, demorada e relaxante degustação de um verdadeiro puro de grande porte.
Julga-se que a palavra portuguesa cigarrilha tenha resultado da adaptação da palavra espanhola cigarillo, que é, como sabemos, um formato de Charuto, que tem um comprimento entre 90 mm e 110 mm, e um diâmetro de +/- 10 mm. Dizemos charuto, e dizemos bem, porque a cigarrilha, embora sendo um formato muito pequeno, respeita a construção tradicional de um charuto: é composta pela tripa, pelo capote e pela capa. Por isso não se confunde com os cigarros, cuja construção é distinta, bem como os elementos que a compõe.
A maioria das cigarrilhas que encontramos das mais variadas marcas têm dimensões ligeiramente mais reduzidas que o formato standard (90/110 mm por 10 mm de diâmetro) atribuído às cigarrilhas. Tornou-se de tal forma popular que se passou a designar Minis ou Miniatures, com um comprimento entre 75 e 90 mm e um diâmetro entre 8 e 9 mm.
Na maioria dos Países, no tratamento da informação estatística da produção e consumo de tabaco, há apenas uma designação, na língua inglesa, para cigars, que inclui todos os formatos de charutos, incluindo as cigarrilhas. A tradição portuguesa tem distinguido os charutos das cigarrilhas, porventura porque o nosso mercado é essencialmente de cigarrilhas, ou talvez porque se julgue que as dimensões das cigarrilhas, ao serem próximas das dos cigarros, não se devam misturar com os charutos.
Há que reconhecer a extraordinária expansão que as cigarrilhas atingiram ao nível mundial. Estima-se que se consumam na ordem de 7.000 milhões de cigarrilhas em todo o Mundo. Em Portugal o consumo foi em 2005 de 66 milhões, enquanto que de charutos a quantidade foi de 9 milhões.
A expansão da produção e consumo das cigarrilhas ficou-se a dever à invenção na Europa, nos anos vinte do Século passado, da máquina para enrolar charutos. Esta invenção europeia foi desenvolvida para que a produção de charutos, e mais tarde o formato cigarillo, fosse feita a preços mais económicos. Na altura os charutos vinham de Cuba, eram enrolados à mão, e os seus preços já eram apenas acessíveis aos consumidores de maior poder económico. Esta inovação permitiu um forte desenvolvimento da indústria de charutos maquinados de todos os formatos, em especial na Holanda e Alemanha.
Estes produtos de tabaco, produzidos à máquina, não têm a humidade característica dos charutos enrolados à mão, e por isso são também conhecidos como charutos do “tipo holandês”, ou “dry cigars”, não exigindo os cuidados de conservação, em termos de humidade e temperatura.
E foi no mesmo sentido, o de se alcançar um produto de preço mais acessível, que surgiu depois a criação da HTL (“Homogeneised Tobacco Leaf”).
Este é um produto artificial, que se apresenta em finas folhas, como se fosse papel, e que resulta de uma operação que passa pela trituração de desperdícios de tabaco, que se misturam com água e celulose. Este material é usado pela indústria para o fabrico de charutos em substituição de um dos elementos do charuto, normalmente para o elemento Capote, ficando escondido debaixo da Capa. Este recurso ao HTL diminui significativamente o custo de produção, já que substitui a folha natural do tabaco que um produto 100% tabaco tem que ter.
A maioria das cigarrilhas recorre a esta opção, pelo que as suas embalagens são omissas a este respeito. Mas há algumas marcas que preferem manter a pureza do tabaco genuíno como produto natural, e por isso essas podem, e fazem-no sempre, inscrever no exterior das suas embalagens a expressão 100% Tabaco. E estas são evidentemente melhores em termos de sabores e qualidade, embora o seu preço também seja distinto das marcas que recorrem ao HTL.
Nos últimos anos, a concorrência tem-se acentuado, o que tem levado algumas marcas a lançarem cigarrilhas de muito baixo preço, e conseguem fazê-lo usando a HTL, não só no Capote como também na própria Capa. Basta olhar para o seu aspeto, com uma cor tão uniforme, para se perceber que se trata de um produto quase todo artificial. Apenas a tripa ainda é tabaco.
No entanto, os bons apreciadores de bons puros, habituados que estão aos formatos de charutos maiores, preferem as cigarrilhas que são produzidas exclusivamente com folhas de tabaco, por ser um produto de maior qualidade, genuíno e proporcionar mais prazer.